Muitos dos sintomas são iguais: dificuldade de se concentrar, desorganização, esquecimento, mau desempenho na escola e problemas de relacionamento.

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Henrique, 10, e Eduarda Lima, 12, de Brasília, têm o distúrbio de processamento auditivo
Os irmãos Henrique, 10, e Eduarda Lima, 12, de Brasília, têm o distúrbio de processamento auditivo

Por isso a dificuldade de saber se uma criança com dificuldade de aprendizagem tem transtorno de deficit de atenção e hiperatividade ou DPAC (distúrbio do processamento auditivo central).

O problema é uma falha na forma como o sistema nervoso central processa o som. Não há deficiência no aparelho auditivo, mas uma dificuldade para compreender o significado da mensagem.

Nomeado oficialmente nos EUA em 1996, o distúrbio ainda está se tornando mais conhecido por pais e professores. Segundo estudos, pode atingir até metade das crianças com dificuldades de aprendizagem.

Ainda se sabe pouco sobre causas -infecções no ouvido na infância estão entre elas, mas suspeita-se também de alterações neurobiológicas genéticas e meningite.

Crianças inteligentes, interessadas e que, mesmo assim, vão mal em várias matérias são candidatas a ter DPAC. É o caso de Eduarda, 12, de Brasília.

A mãe, Luísa Casado Lima, afirma que a filha sempre foi esforçada, mas não conseguia se concentrar e começou a cometer erros de grafia.

Luísa, que é dentista, levou a filha a uma fonoaudióloga, a um neurologista e a um ortopedista. No exame de audiometria, feito em cabine acústica, o processamento auditivo estava alterado.

Eduarda ouvia bem, mas não entendia o que era dito.

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MODA

A mãe acha que o DPAC é moda. "Todo aluno tem alguma coisa, qualquer dificuldade é atribuída a alterações."

O filho dela, Henrique, 10, também foi diagnosticado com o problema.

O neuropediatra Paulo Junqueira também percebe um crescimento no número de diagnósticos.

Para a fonoaudióloga Vera Lúcia Garcia, diretora secretária da Associação Brasileira de Fonoaudiologia, os diagnósticos vão ficando mais específicos com a evolução da neurociência.

"Hoje a disseminação do distúrbio é maior e há mais recursos para avaliá-lo."

Nicholas Araujo, 9, do Rio, também foi diagnosticado com o DPAC. A mãe, Rachel, demorou para descobrir quais eram as dificuldades.

O que chamava a atenção da mãe é que qualquer frase era interpretada ao pé da letra. "O Nicholas não entendia brincadeiras, piadas, algo com duplo sentido", diz.

O tratamento é feito com fonoterapia, para ajudar a criança a separar e entender o que ouve.

Além de terem sintomas similares, o deficit de atenção e o distúrbio auditivo podem coexistir -o que é muito comum, segundo o neuropediatra Paulo Alves Junqueira. "É preciso tomar muito cuidado ao colocar um rótulo porque as características são similares. Há uma linha muito tênue entre os dois.

FOLHA DE SÃO PAULO, 3-1-11